segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O vento



Foto: Thiago Camara
O vento passando pela Praia de Itaúna, Saquarema-RJ
  

O vento passou e levou todo o medo de morrer. Com força e som impulsionava o homem a desejar, naquele instante, mais viver. Seguia seu caminho cansado e intrigado sobre as dificuldades que enfrentava em precisar crescer.
Lembrou-se dos tempos de criança. Fixou na memória a arte de brincar, a ingênua alegria, mas, sobretudo, uma vontade enorme de ser. Ser espontâneo, sincero, aberto, um tanto quanto receoso, nunca, porém, um fraco medroso.
A juventude fora intensa. E de tão boa já deixava saudades antes mesmo de deixar de ser realidade. As dores das descobertas, as angústias das incertezas, a alegria da novidade. Cada ousadia, cada aprendizado e superação faziam com que o homem quisesse, para sempre, permanecer neste estado de pulsação.
De verdade, ainda se impactava com as responsabilidades da vida adulta. Era como o mar que batia revolto, como se não quisesse aceitar a força do vento a lhe empurrar.
O vento passou e levou sua aparência destoante. Jeito de ser carregado, os entulhos diários, as mágoas e decepções de um coração machucado, tudo sumia para dar espaço a uma essência brilhante. Com sua força, o vento passou e trouxe de volta a alegria vibrante, o olhar excitante e um desejo sincero de seguir adiante. (Thiago Camara)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ser rocha, ser firme



Foto: Thiago Camara

Pico do Papagaio, símbolo do bairro do Grajaú, Zona Norte do Rio


Fazia tempo que não me demorava neste canto da casa. Seu despojamento e frescor me atraíram naquele fim de tarde. Avistar aquele enorme pico sempre fora uma beleza que a varanda podia proporcionar.
Ao olhar pra baixo, as pessoas faziam seus movimentos de idas e vindas, chegadas e partidas. Com os olhos para o alto percebi que as nuvens se deixavam mover pelo vento. Como se o Criador quisesse arrumar a casa do céu.
Parado e com alegria, cumpria minha missão de observar. Ver é como ter um privilégio. E olhar com atenção é como um bálsamo pra alma.
A altura que se via da varanda do meu andar, me aproximava da grandeza e perfeição daquele pico. Recordei-me que subira aquela rocha e vira que, de perto, ela não era tão grande, nem tão perfeita assim. Mas uma característica me fez querer ser como ela: sua firmeza.
Esse desejo deu sentido a minha presença ali, naquele dia, naquele canto da casa, naquela noite que começava... (Thiago Camara)