14 de março de 2018. Dia de barbarie. No Brasil, o país onde o inverso é certo, morre-se por lutar contra a desigualdade. E deve-se permanecer calado, como manda o figurino.
Em choque, as pessoas receberam nas redes socais a notícia da execução de Marielle Franco, vereadora do PSOL eleita com mais de 46 mil votos. Ao que tudo indica ela teria sido vítima de uma execução após denunciar excesso nas atitudes de policiais militares contra moradores em Acari. Eles eram do 41° Batalhão da PM, o que mais mata no Rio.
A vereadora carioca, cria da favela da Maré, junta-se a outros brasileiros que foram silenciados por ecoarem os erros de um Estado corrupto, de instituições inoperantes, de agentes da lei que agem contra ela. Vladimir Herzog, Edson Luís, Chico Mendes, Irmã Dorothy, juíza Patrícia Acioli… Inúmeros brasileiros tentam denunciar todos os dias as injustiças sociais que aumentam a violência e impedem que haja oportunidade para todos no Brasil. Mas essas vozes têm que ser caladas.
O podre sistema que rege esta nação garante a certeza da impunidade de assassinos, como os de Marielle. Matar a vereadora covardemente é um recado claro: não é permitido questionar a situação vigente. É um atentado [grave] à democracia.
Calar Marielle é uma tentativa de calar um partido que por anos vem expondo e combatendo por meio de denúncias e CPIs as ações de grupos de milicianos ligados a parlamentares que habitam a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Além de denunciarem a quadrilha PMDB que extorquiu o Estado por anos e hoje segue sem rumo na gestão estadual. Concordando ou não com as bandeiras do PSOL, é leviano e superficial dizer que eles defendem bandidos. Defenderiam os seus algozes?
Ter voz e vez no Brasil é para poucos. E privilegiados são os que já recebem benesses. Juízes são ouvidos. Entram em greve por auxílio-moradia, muitas vezes maior que salários de professores e policiais, e não há indignação. Políticos acusados e investigados por corrupção são ouvidos e absolvidos. Seja pelos seus pares, seja por um judiciário conivente que o faz em troca de manter seus benefícios.
Quando Marielle trouxe para o meio político a representatividade feminina e do povo negro, favelado e LGBT, um feito histórico se fez. Mas sua voz não pode gritar. O Brasil é o país onde a luta é um problema. E manter essas parcelas da população à margem e em silêncio não é problema… é solução.
A morte de Marielle é mais uma tentativa de impor silêncio aos marginalizados brasileiros.