A alegria do circo é o palhaço |
Os primeiros trinta minutos de “O
Palhaço”, novo filme do ator e diretor Selton Mello, me causaram estranheza e
um certo incômodo. E quando minha mente agitada esperava algo que movimentasse
mais o enredo, via sutilezas de interpretação e silêncio.
Tudo no filme é simples: as piadas,
as risadas, as falas, os personagens, a trama, o clímax e o “gran finale”. A leveza e o ritmo com
que o diretor conduz a história do palhaço Pangaré são quase que uma agressão
ao imediatismo, a instantaneidade e ao excesso de barulho que vivemos em nosso
tempo. Esse choque me levou a refletir sobre minhas escolhas. Pensar acerca dos
meus desejos e sonhos que quero realizar. E, principalmente, abrir os olhos – e
os ouvidos – para o relacionamento que estabeleço
com o silêncio.
O personagem de Selton Mello é
inquieto. Mas é um inquieto silencioso. Observador e de poucas palavras. Conduz
seu conflito interno de modo real e fantasioso. Ele sofre. E tem dúvidas. E
precisa saná-las para seguir adiante. Ele quer o apoio familiar e vai de
encontro ao seu pai quando decide se afastar. Na simplicidade dos seus gestos
ele ousa ir à busca de um desconhecido que poderia mudar sua realidade. Na
mesma leveza com que convive com seu drama ele reencontra no meio do caminho
aquilo que ninguém pode fazer tão bem quanto ele mesmo. Talento, dom, carisma.
Cada ser humano tem o seu. O do palhaço é fazer rir.
Paulo José e Selton Mello fazem Puro Sangue e Pangaré |
Percebi que aquilo que é bom em mim
precisa aflorar. E desatinei a escrever este texto até alta madrugada. As
palavras vinham e as lembranças das cenas se confundiam com meu cotidiano. Como
todo ser humano, também sofro, tenho dúvidas, me inquieto.
Pensei ainda que se, de fato, nós
seres humanos fôssemos promotores da singularidade uns dos outros, veríamos que
a inveja não nos acrescenta em nada. Nossa ânsia por sermos os melhores de
todos, sempre, seria vã. O desejo de tudo ter se converteria em apenas ser quem
somos e ponto final. A humanidade agradeceria o esforço pessoal de cada um e
certamente viveria mais em paz. Podemos tentar ser algo diferente? Porque não? O que nos marca não são os títulos que recebemos
por nossos feitos. São nossos dons e nossa capacidade de fazer bem feito aquilo
que só a gente, com nosso jeito, sabe fazer. Nossa missão aqui nesta Terra
passa por isso.
O silêncio me fez reencontrar
comigo mesmo. E levei para casa a percepção de que preciso silenciar mais, sem
deixar de me inquietar também. Observar a vida com leveza. Fazer dela um passo
de cada vez. Não querer tudo para anteontem. Tentar sim, e sempre ter a certeza
de que é infinita minha capacidade de recomeçar. “Porque os gatos bebem leite,
os ratos comem queijo. E eu?” Sou jornalista! (Thiago Camara)
Assista abaixo o trailer oficial do filme O Palhaço:
Assista abaixo o trailer oficial do filme O Palhaço:
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