Na passarela da vida nosso olhar é a comissão de
frente do desfile que fazemos por este planeta. Ele carrega nas costas a escola
da nossa história. Com o olhar temos o poder de fulminar ou amar alguém. Ainda
que num primeiro encontro, desconfiado, o olhar revela quem somos. Dizem que
ele é a “janela da alma”. Ao acessar seus ferrolhos e abrirmos esta janela,
quem conosco se deparar pode levar o melhor e o pior de nós para dentro de si.
A entrada na passarela do outro começa tímida e constrangida. Mas o que não
faltam são fantasias e máscaras para quebrar o gelo de um primeiro contato. No
decorrer do desfile, percebemos que quanto maior a escola, mais alegorias e
adereços para confundir nossa visão. A revelação da nossa essência torna-se
cada vez mais desfocada num emaranhado de cores, brilhos e belezas artificiais.
As janelas da alma se abrem todos os dias e em profusão transitam os inúmeros
personagens que interpretamos para não prejudicar o conjunto. Ser sincero é o
maior desafio que vivemos no carnaval constante a que somos submetidos.
Na levada do samba é levada a
autenticidade. O enredo não se expressa de forma clara porque tamanha é a
necessidade de expor-se naquilo que não se é. A evolução se compromete. Pelo
desfile da vida passam inúmeras pessoas correndo contra o tempo, ou correndo do
tempo. No ritmo frenético da bateria, quem desfila neste mundo não sabe mais
esperar. Perde-se em harmonia. Ao tempo não é dado o respeito que merece. E é o
próprio indivíduo que se esquece que na vida é sempre tempo de alguma coisa. Na
loucura de ser tudo num dia só, as colombinas e piratas se apressam para que
sua exposição não lhe exija mais do que a veracidade da sua interpretação.
As dores deste
longo desfile brotam e quando se espera o mais sincero choro, uma alegria.
Alegria velada para alcançar a nota máxima em falsidade.
Atravessa o
samba, atravessa ao largo aquilo que somos. No chão, confetes, serpentinas,
purpurinas, adereços. O fim. Fim de um enredo que não empolgou por não ter
revelado o que de mais belo existe no desfile da vida: a verdade. (Thiago Camara)
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