quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Desfile da Vida




Desfile das Escolas de Samba do RJ na Marquês de Sapucaí



Na passarela da vida nosso olhar é a comissão de frente do desfile que fazemos por este planeta. Ele carrega nas costas a escola da nossa história. Com o olhar temos o poder de fulminar ou amar alguém. Ainda que num primeiro encontro, desconfiado, o olhar revela quem somos. Dizem que ele é a “janela da alma”. Ao acessar seus ferrolhos e abrirmos esta janela, quem conosco se deparar pode levar o melhor e o pior de nós para dentro de si. A entrada na passarela do outro começa tímida e constrangida. Mas o que não faltam são fantasias e máscaras para quebrar o gelo de um primeiro contato. No decorrer do desfile, percebemos que quanto maior a escola, mais alegorias e adereços para confundir nossa visão. A revelação da nossa essência torna-se cada vez mais desfocada num emaranhado de cores, brilhos e belezas artificiais. As janelas da alma se abrem todos os dias e em profusão transitam os inúmeros personagens que interpretamos para não prejudicar o conjunto. Ser sincero é o maior desafio que vivemos no carnaval constante a que somos submetidos. 

Na levada do samba é levada a autenticidade. O enredo não se expressa de forma clara porque tamanha é a necessidade de expor-se naquilo que não se é. A evolução se compromete. Pelo desfile da vida passam inúmeras pessoas correndo contra o tempo, ou correndo do tempo. No ritmo frenético da bateria, quem desfila neste mundo não sabe mais esperar. Perde-se em harmonia. Ao tempo não é dado o respeito que merece. E é o próprio indivíduo que se esquece que na vida é sempre tempo de alguma coisa. Na loucura de ser tudo num dia só, as colombinas e piratas se apressam para que sua exposição não lhe exija mais do que a veracidade da sua interpretação.   

As dores deste longo desfile brotam e quando se espera o mais sincero choro, uma alegria. Alegria velada para alcançar a nota máxima em falsidade.    

Atravessa o samba, atravessa ao largo aquilo que somos. No chão, confetes, serpentinas, purpurinas, adereços. O fim. Fim de um enredo que não empolgou por não ter revelado o que de mais belo existe no desfile da vida: a verdade. (Thiago Camara)    


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