A manhã já avança e os seguranças se preparam para abrir os portões do pavilhão. É dia de exposição. O que se verá entre os corredores e paredes são obras de arte inéditas, mas que tentam se diferenciar umas das outras usando o mesmo método para chamar a atenção dos visitantes. São corpos desnudos, dorsos, pernas de fora. A cara é dada a tapa e parece que as obras se acostumaram ao ofício diário de se expor. De longe, tudo parece belo e exótico. De perto, o cenário é outro. São olhos que clamam por atenção e suplicam por pelo menos um comentário. Internet é o nome deste pavilhão.
São inúmeros meninos e meninas que se colocam à disposição para serem observados e analisados por pessoas que nem sequer os viram em algum momento de suas vidas. O esforço que fazem para passar uma alegria profunda é recorrente. Só que a tentativa segue ralo abaixo. Quando não é o sorriso da felicidade, é a sensualidade que toma o espaço. E eles se mostram. E cada vez mostram mais. Como se vivessem num constante espetáculo. Esquecem apenas de revelar suas almas, expor aquilo que se esconde atrás do seu corpinho bonito e da sua cara de “simpatia é quase amor”. Estão tão acostumados a ser mais do mesmo que se perdem ao tentar se valorizar através do supérfluo. Reproduzem os gestos dos bad boys e as caretas das ‘single ladies’. E seguem seus dias de luta. Tentam firmar seu espaço na grande rede como a obra de arte mais visitada, comentada e, quiçá, admirada.
Se estas obras soubessem o valor que elas têm... Se pudessem se esforçar para descobrir a riqueza de suas almas, a profundidade de ter uma identidade lhes consumiria. Não sobraria espaço para a mesquinharia. Não haveria manhã, nem seguranças e os portões do pavilhão ficariam fechados. Se a verdade de cada jovem nos fosse revelada, esse tipo de exposição poderia ser cancelada. E aguardaríamos a estreia de uma nova mostra. Um espaço da verdade, onde esses meninos e meninas jamais seriam esquecidos. A beleza do ser, e de ser, enfim seria valorizada. E o aplauso e a emoção tornariam mais fecundos os curiosos sedentos por esta exposição. (Thiago Camara)
Esse, sem dúvida, é meu texto preferido dos que vc já escreveu até hoje! Arrasou, amore!!! Te amo.
ResponderExcluirObrigado, amore! Da onde saiu essa água tem muito mais... hehe Aguarde e lerá! Te amo!
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