Depois de mais um dia pelos pontos turísticos, aquela horda de viajantes voltava para seus hotéis com o dever cumprido: suas câmeras haviam registrado sequências intermináveis de sorrisos. Prova cabal de que levam uma vida mágica e feliz. E, thanks Facebook, nunca foi tão fácil, rápido – e prazeroso – espalhar por aí detalhes de tantas vidas invejáveis e irretocáveis.
Naquele dia, o mar estava agitado, e a tripulação avisou: quem não quiser tomar um banho é melhor se abrigar lá dentro. A proa da embarcação esvaziou de bate pronto. Apesar do sol que brilhava forte, fazia frio. Em torno dos 10ºC. No oceano, a temperatura não ia além dos 5º C. Nem cinco minutos se passaram, dito e feito: a cada onda, uma enxurrada d’água vinha barco adentro.
Enquanto a turistada se espremia lá dentro, fugindo de cada gota, restava uma pessoa lá fora. Com casaco pesado, cabelos encaracolados e desgrenhados pelo vento, aquela senhora já passava dos 70 anos. Nem parecia: a cada onda gelada que molhava todo o seu corpo e escorria por seu rosto enrugado, ela abria um sorriso tão espontâneo e forte que lhe dava aparência de criança.
Ela, porém, sequer levava na bolsa seu guia turístico. Tinha-o na cabeça, e a edição nunca foi fechada: estava em constante construção. Para ela, o bom mesmo não eram os dez melhores restaurantes, os dez melhores museus ou os dez visuais mais bonitos indicados por gente que entende do assunto.
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