Ponte estaiada repleta de paulistanos na manifestação de segunda-feira |
“O povo acordou” – e não vai mais dormir. A frase entoada
nos quatro cantos do Brasil, nesta segunda-feira, era a síntese do que se via
por todos os lados: já passava de meia-noite e milhares de pessoas continuavam
nas ruas – e nas redes sociais – compartilhando emoções, imagens e memórias de
um dia que já virou História no país.
Nunca uma segunda-feira foi tão esperada por tantas
pessoas. Cem, duzentas, trezentas mil... O número exato já não importa. O
Brasil saiu às ruas como não fazia há tempos. E gritou o que estava entalado na
garganta. Não se tratava mais – ou apenas – de 20 centavos. O que começou com
uma indignação pelo aumento das tarifas do transporte público virou algo muito
maior. Depois de manifestações reprimidas violentamente pelo Estado, as pessoas
saíram de casa para relembrar que o espaço da democracia é a rua.
Em São Paulo, a cidade que nunca para – a não ser nos
engarrafamentos – milhões de automóveis sumiram do caminho para dar lugar a
milhares de pessoas. Mas não foi só ali. Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Maceió, Belém, Rio Branco... Os
protestos se espalharam como pólvora por todo o país.
Mas de pólvora quase nada se viu. O que explodiu no
asfalto, dessa vez, foi a mais pura brasilidade. Daquelas que otimismo,
criatividade, bom-humor e repulsa cabem num mesmo cartaz, num mesmo grito
de guerra. Democracia, educação, saúde, fim da corrupção, direito à
manifestação pacífica, transporte público acessível e de qualidade... Estava
tudo ali, num mesmo caldo de reivindicações.
E que, aquilo que nasceu da indignação pelo aumento das
tarifas do transporte público, não fique sem resposta. Os governos precisam
ceder à pressão da população e oferecer uma solução para a questão do alto
preço do transporte, além de se abrir para a elaboração participativa dos
planos de mobilidade das cidades.
Após décadas e décadas de incentivo ao transporte
privado, está na hora de repensar este modelo exaurido e garantir volumosos
recursos em transporte coletivo. O problema da mobilidade urbana nos grandes
centros urbanos brasileiros não pode mais ser ignorado. O principal caminho
para solucioná-lo é um transporte coletivo acessível e eficiente. (Bernardo Camara*)
*Bernardo Camara é jornalista e morador de São Paulo, de onde participou da histórica noite de segunda-feira, 17 de junho de 2013
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