A alegria do circo é o palhaço |
Paulo José e Selton Mello fazem Puro Sangue e Pangaré |
Assista abaixo o trailer oficial do filme O Palhaço:
A alegria do circo é o palhaço |
Paulo José e Selton Mello fazem Puro Sangue e Pangaré |
O vento passando pela Praia de Itaúna, Saquarema-RJ
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Não há um dia em que não me depare com citações de filósofos, poetas, escritores, dramaturgos, teólogos, músicos e santos postadas no Facebook...
Sem dúvida que esta virou uma forma de difundir, de maneira bastante rápida e positiva, aquilo que alguns – como o historiador March Bloch, por exemplo , chamam de cultura erudita, isto é, advinda de pessoas que foram, ou são, a seu tempo, produtores de conhecimento e formadores de opinião nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
E como é bom e edificante iniciarmos nossas atividades diárias embebidos de palavras da Bíblia, de Fernando Pessoa ou de William Shakespeare, e embalados por versos cantados por Chico Buarque, Roupa Nova, Mercedes Sosa e Ministério Adoração e Vida, só para citar alguns exemplos.
Mas, em meio a esta miríades de pensamentos – alguns, sem dúvidas sensacionais –, eu também me pergunto: estes novos difusores de opinião – que aqui chamarei de “facelósofos” -, postam tais mensagens porque as põem em prática na sua própria vida, ou dão às mesmas o caráter de “receitas de vida” para outrem??? Estas citações os desafiam a mudar a sua própria forma de ver o mundo ou dão fomento à fórmula “façam o que eu mando, mas não façam o que eu faço”?
Esta é apenas uma reflexão pessoal que ora partilho, mas no fundo, o que desejo mesmo, é que, ao apreendermos tais palavras, não deixemos de pensar por nós mesmos. E que tais citações nos sirvam de “ferramentas” para dialogarmos com o mundo de hoje e seus questionamentos. Afinal de contas, somos nós quem vivemos o “aqui” e o “agora” e são os nossos próprios dizeres, nossas prórias expressões, que precisam ser construtores de um mundo melhor e mais fraterno.
Torço, então, para que, desta turma de “facelósofos” - que utilizam de forma tão construtiva o Facebook -, possamos receber palavras inspiradas de seus próprios corações, a fim de que, num futuro não muito distante, elas sejam também eternizadas - a exemplo de tantos Mestres Pensadores.
Avante “facelósofos”! Continuemos a ajudar a promover a vida humana com as nossas próprias palavras! E viva a liberdade de expressão! (Rosiane Rigas)
Velas para acender
Vidas para iluminar
Nos apagões constantes
O escuro esconde a beleza de ser
Sem luz, impossível se revelar
Na penumbra dos edifícios transita a multidão
Um monte de gente apagada
Que desce as escadas em busca de salvação
A rua é invadida por uma intensa luz
Dessa que aquece, nutre, revela
Do alto do céu, um brilho de verdade
Que toca o asfalto para se voltar para o alto
Mas os vidros impedem essa luz de penetrar nos edifícios
Já no fim da fuga da escuridão
Quem descia os andares se vê diante de uma luz verdadeira
E decide: “Não preciso mais viver em constante apagão”.
(Thiago Camara)
Ah! Se o tempo falasse... Seria ele o indicador de nossos desenganos e aquele que refrescaria na memória nossas vitórias. O que fomos ontem o tempo não fala, mas dirá com ele mesmo aquilo que somos hoje. Aquelas certezas incertas de sermos o que não nos pertence e que nos leva pra mais distante ainda da verdadeira beleza de sermos nós mesmos. Deixa o tempo falar...
Se o tempo falasse não deixaria em nós morrer os momentos de profundidade vividos com a riqueza da nossa verdade. Ela que insiste em vir à tona, ainda quando a mascaramos e maquiamos para parecemos mais agradáveis aos outros. Quando nos expomos em nossos personagens, legitimamos o outro a fantasiar sobre aquilo que somos. Quem se expõe pela metade, nunca será tratado
Se o tempo falasse, ele diria que sempre é tempo de correr atrás do tempo perdido pelo caminho. Não pararia para irmos ao encontro do que se perdeu, mas seria um grande mestre para nos mostrar o que erramos. Diante da dica do tempo, caberia a nós correr atrás dele para que fosse refeita alegria e paz em nossa alma. Deixa falar...
Se o tempo falasse, pediria para caminhar conosco. Mostraria que é mais amigo nosso do que pensamos e não precisaríamos mais correr contra ele. Revelaria ser o amor o melhor jeito de esgotá-lo, em todo tempo. Seria o caso de o abraçarmos e celebrarmos sua existência e possibilidade de crescimento que nos dá. Deixa...
Se o tempo falasse, lembraria a criança que fomos. Os sonhos perdidos, os desejos escondidos. O sorriso de quem não tem tempo de pensar que um dia o tempo poderia ser um inimigo. Mas tem certas coisas que só o tempo traz. Lembranças e esperanças de um amigo que ensina a não perder tempo com o que não nos edifica.
Depois de mais um dia pelos pontos turísticos, aquela horda de viajantes voltava para seus hotéis com o dever cumprido: suas câmeras haviam registrado sequências intermináveis de sorrisos. Prova cabal de que levam uma vida mágica e feliz. E, thanks Facebook, nunca foi tão fácil, rápido – e prazeroso – espalhar por aí detalhes de tantas vidas invejáveis e irretocáveis.
Naquele dia, o mar estava agitado, e a tripulação avisou: quem não quiser tomar um banho é melhor se abrigar lá dentro. A proa da embarcação esvaziou de bate pronto. Apesar do sol que brilhava forte, fazia frio. Em torno dos 10ºC. No oceano, a temperatura não ia além dos 5º C. Nem cinco minutos se passaram, dito e feito: a cada onda, uma enxurrada d’água vinha barco adentro.
Enquanto a turistada se espremia lá dentro, fugindo de cada gota, restava uma pessoa lá fora. Com casaco pesado, cabelos encaracolados e desgrenhados pelo vento, aquela senhora já passava dos 70 anos. Nem parecia: a cada onda gelada que molhava todo o seu corpo e escorria por seu rosto enrugado, ela abria um sorriso tão espontâneo e forte que lhe dava aparência de criança.
Ela, porém, sequer levava na bolsa seu guia turístico. Tinha-o na cabeça, e a edição nunca foi fechada: estava em constante construção. Para ela, o bom mesmo não eram os dez melhores restaurantes, os dez melhores museus ou os dez visuais mais bonitos indicados por gente que entende do assunto.
A manhã já avança e os seguranças se preparam para abrir os portões do pavilhão. É dia de exposição. O que se verá entre os corredores e paredes são obras de arte inéditas, mas que tentam se diferenciar umas das outras usando o mesmo método para chamar a atenção dos visitantes. São corpos desnudos, dorsos, pernas de fora. A cara é dada a tapa e parece que as obras se acostumaram ao ofício diário de se expor. De longe, tudo parece belo e exótico. De perto, o cenário é outro. São olhos que clamam por atenção e suplicam por pelo menos um comentário. Internet é o nome deste pavilhão.
São inúmeros meninos e meninas que se colocam à disposição para serem observados e analisados por pessoas que nem sequer os viram em algum momento de suas vidas. O esforço que fazem para passar uma alegria profunda é recorrente. Só que a tentativa segue ralo abaixo. Quando não é o sorriso da felicidade, é a sensualidade que toma o espaço. E eles se mostram. E cada vez mostram mais. Como se vivessem num constante espetáculo. Esquecem apenas de revelar suas almas, expor aquilo que se esconde atrás do seu corpinho bonito e da sua cara de “simpatia é quase amor”. Estão tão acostumados a ser mais do mesmo que se perdem ao tentar se valorizar através do supérfluo. Reproduzem os gestos dos bad boys e as caretas das ‘single ladies’. E seguem seus dias de luta. Tentam firmar seu espaço na grande rede como a obra de arte mais visitada, comentada e, quiçá, admirada.
Se estas obras soubessem o valor que elas têm... Se pudessem se esforçar para descobrir a riqueza de suas almas, a profundidade de ter uma identidade lhes consumiria. Não sobraria espaço para a mesquinharia. Não haveria manhã, nem seguranças e os portões do pavilhão ficariam fechados. Se a verdade de cada jovem nos fosse revelada, esse tipo de exposição poderia ser cancelada. E aguardaríamos a estreia de uma nova mostra. Um espaço da verdade, onde esses meninos e meninas jamais seriam esquecidos. A beleza do ser, e de ser, enfim seria valorizada. E o aplauso e a emoção tornariam mais fecundos os curiosos sedentos por esta exposição. (Thiago Camara)
Praia de Lopes Mendes, na Ilha Grande-RJ. Novembro de 2006 |