quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Ele é esperança



Ela nasce no escuro e surge no horizonte noturno onde os olhos não podem ver

Ela surge brilhante, uma luz incessante que aquece o peito de quem a resolve acolher.

Ela renova a lembrança de um ser que avança sem medo de viver.

Ela é a liberdade de sonhar, a certeza de alcançar, a graça que há em amar.

Ela se faz menino que mesmo sem abrigo decide em nós renascer.

Ela se chama esperança, mas também tem por nome Jesus. 


Feliz Natal e um 2013 cheio de esperança! 

Thiago Camara 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Cenas urbanas



Outras cenas urbanas são gentilezas que fazem parte do nosso dia a dia



Duas cenas clássicas do cotidiano urbano. Tinham tudo para dar errado. E reforçariam minha certeza de que a humanidade está perdida, de que o “olho por olho, dente por dente” é o que prevalece, de que o homem é um idiota mesmo que vai morrer sozinho com seus gadgets, tablets, Iisso, Iaquilo, porque só sabe se relacionar com – e por meio das – as  máquinas. 

Fui surpreendido. 


Chegava a uma Ipanema de sol a pino em pleno primeiro sábado do mês. Praia lotada, todo mundo querendo se preparar para o verão. Devia ter gente de todo lugar da cidade. A Lagoa Rodrigo de Freitas, ali bem próxima, estava com seu entorno quase que todo interditado para estacionamento. Eu e minha namorada tínhamos um compromisso no meio da tarde, neste cenário, e precisávamos de uma vaga para estacionar o carro. Rodamos um pouco e, incrivelmente, na Visconde de Pirajá (rua principal do bairro) vimos um cidadão colocando uma toalha na mala do seu veículo. Pensamos: “ih agora que nos viu parados, vai fazer hora, fingir que não está nos vendo, só pra ter o prazer de jogar na nossa cara que ele sai da vaga na hora que ele quiser...” e outras coisas que os cariocas adoram fazer nos estacionamentos dos shoppings centers. Perguntamos se ele ia sair. E ele veio até o nosso carro e “todo preocupado” disse: “Vocês podem esperar um pouquinho? É que meu caro está fervendo (estava no sol) e eu estou esperando minha esposa que entrou ali na galeria”. Olhamos um para a cara do outro e pensamos em voz alta, claro! Acertamos na loteria. Uma vaga em Ipanema, em dia de sol. 


Como se não bastasse, a gentileza do nobre cidadão continuou. Vendo que a esposa demorava além da conta nas vitrines da galeria, ele preocupado em nos fazer esperar ainda mais, foi atrás dela, a apressou para entrar no carro e sair para dar lugar a nós. A esposa chegou com a filha. A menina entrou no banco de trás com o pai e a mãe seguiu ao volante. Antes que ela terminasse a manobra, o nobre cidadão ainda virou-se para trás, acenou e deixou na gente uma sensação de esperança e certeza de que educação e gentileza são inspiradores nos dias de hoje. Ganhamos o sábado.


A outra cena foi no Grajaú, bairro em que moro. Estava saindo de casa para fazer natação e tocou o interfone. Era o porteiro dizendo que o vizinho de umas quatro casas para trás estava lá embaixo reclamando que nosso carro, que fica na rua, estava atrapalhando seu entrar e sair de casa. Detalhe o carro já estava parado na frente da casa dele há alguns meses. Já desci, pensando no pior. Ao chegar à portaria me deparei com um senhor de cabelos brancos, muito educado, simpático e que ficou me pedindo desculpas por estar me importunando. “Imagina, vamos lá resolver isso”, eu disse quase que emendando num convite para ele subir e tomar um café comigo. Na porta de sua casa, coloquei o carro poucos metros para trás e acabei com o incômodo que o estava inquietando. Ele me agradeceu demais e pediu também mais desculpas por ter tomado meu tempo. Resultado: conheci um vizinho educado, prestativo, simpático, gentil. E tive a certeza de que há muitas mentes e corações bondosos e solícitos escondidos nos nossos centros urbanos. Pena que encontrá-los me causou tamanho espanto inicial e vontade de escrever este texto para disseminar esses gestos simples para além do meu peito. Poderia ser sempre assim. Ganharíamos os dias. (Thiago Camara)