quarta-feira, 27 de julho de 2011

BASTA

Pouco mais de seis meses no poder e a presidente Dilma resolveu fazer uma faxina ética no Ministério dos Transportes. A crise, que há 24 dias expõe denúncias de um suposto esquema de pagamento de propina em obras federais, veio à tona através da mídia e resultou em pelo menos 18 demissões. Infelizmente, a corrupção é uma mania nacional e não é de hoje que se pratica e se repete. Os homens do poder governam para si e quem paga as contas é o povo brasileiro com o suor do seu esforço...





Basta. Cansei de ser tratado como otário.


Meu ouvido não é pinico nem armário zoneado.


Chega de hipocrisia,


De cuecas, meias e políticos “mensalários”


Estou cansado de ver gente falsa dominando o pedaço


A tolice já consumiu o boletim diário


E o que se vê na telinha não condiz


Com o que o povo faz pra conseguir seu trocado.


A paciência tem limite e a tolerância se esgota.


Quem foi que disse que se luta parado e calado?


Cada lixo na lixeira é menos uma árvore derrubada


É responsabilidade de toda humanidade


Não quero mais saber de passividade


Chega de manipulação da verdade


Lobby, complô e armação nesta cidade


Passou da hora de revelar nossa verdadeira identidade


Brasileiro é povo que luta, gente que chora


E sabe fazer da sua vida um franco itinerário


Homens que trabalham, mulheres que renovam


A alegria de serem atrizes dos seus folhetins diários


Basta de quererem arrancar de nós a grana


que conseguimos com nosso suor dobrado.



Chega de enganarem a gente com seus discursos prontos


para ouvidos viciados.

Basta de maquiarem uma faxina de ética para



Inocentar seus olhos fechados para a roubalheira dos seus empregados.
(Thiago Camara)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Facelosofia


Na semana do Dia do Amigo apresento aos meus leitores um texto da historiadora e amiga deste blogueiro, Rosiane Rigas. A autora discute a nova onda de promoção da vida humana no Facebook.







Não há um dia em que não me depare com citações de filósofos, poetas, escritores, dramaturgos, teólogos, músicos e santos postadas no Facebook...

Sem dúvida que esta virou uma forma de difundir, de maneira bastante rápida e positiva, aquilo que alguns – como o historiador March Bloch, por exemplo , chamam de cultura erudita, isto é, advinda de pessoas que foram, ou são, a seu tempo, produtores de conhecimento e formadores de opinião nas mais diversas áreas do conhecimento humano.

E como é bom e edificante iniciarmos nossas atividades diárias embebidos de palavras da Bíblia, de Fernando Pessoa ou de William Shakespeare, e embalados por versos cantados por Chico Buarque, Roupa Nova, Mercedes Sosa e Ministério Adoração e Vida, só para citar alguns exemplos.

Mas, em meio a esta miríades de pensamentos – alguns, sem dúvidas sensacionais –, eu também me pergunto: estes novos difusores de opinião – que aqui chamarei de “facelósofos” -, postam tais mensagens porque as põem em prática na sua própria vida, ou dão às mesmas o caráter de “receitas de vida” para outrem??? Estas citações os desafiam a mudar a sua própria forma de ver o mundo ou dão fomento à fórmula “façam o que eu mando, mas não façam o que eu faço”?

Esta é apenas uma reflexão pessoal que ora partilho, mas no fundo, o que desejo mesmo, é que, ao apreendermos tais palavras, não deixemos de pensar por nós mesmos. E que tais citações nos sirvam de “ferramentas” para dialogarmos com o mundo de hoje e seus questionamentos. Afinal de contas, somos nós quem vivemos o “aqui” e o “agora” e são os nossos próprios dizeres, nossas prórias expressões, que precisam ser construtores de um mundo melhor e mais fraterno.

Torço, então, para que, desta turma de “facelósofos” - que utilizam de forma tão construtiva o Facebook -, possamos receber palavras inspiradas de seus próprios corações, a fim de que, num futuro não muito distante, elas sejam também eternizadas - a exemplo de tantos Mestres Pensadores.

Avante “facelósofos”! Continuemos a ajudar a promover a vida humana com as nossas próprias palavras! E viva a liberdade de expressão! (Rosiane Rigas)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Reencontro


Foto de Bernardo Camara
Um reencontro nas areias da praia de Saquarema-RJ


O carinho espontâneo. O olhar sincero. O abraço. Num reencontro breve, lembranças de um tempo recente vêm à tona e trazem saudade de tudo o que se deixou de viver. Difícil explicar porque as pessoas se distanciam. Mais complexo ainda entender como momentos vividos não deixam de existir em nossa memória e coração.

A amizade será sempre esse reencontro. A cada dia um novo se abre para quem é amigo. Chorar, rir, brigar e, sobretudo suportar a verdade do outro são alguns dos desafios que aquele que deseja ser amigo vai precisar enfrentar.

A proximidade estreita laços. A distância, perpetua-os. Só sabe ser amigo de verdade quem suporta a dor da ausência; quem entende que não é preciso estar sempre junto para ser o amigo de sempre e quem espera com alegria o grande dia do reencontro.

O tempo, ou a falta dele, nos leva pra longe daquele que um dia foi nosso porto seguro. Mas ele pode levar-nos a recordar dos inúmeros momentos divididos. As longas conversas intermináveis, os carinhos dispensados, a cumplicidade no silêncio. O incentivo na palavra, a alegria das vitórias conquistadas, a dor compartilhada...

Ser amigo é esforçar-se para ser melhor a cada dia, mês, ano, para além do próximo reencontro. (Thiago Camara)

Constante Apagão



Velas para acender

Vidas para iluminar

Nos apagões constantes

O escuro esconde a beleza de ser

Sem luz, impossível se revelar

Na penumbra dos edifícios transita a multidão

Um monte de gente apagada

Que desce as escadas em busca de salvação

A rua é invadida por uma intensa luz

Dessa que aquece, nutre, revela

Do alto do céu, um brilho de verdade

Que toca o asfalto para se voltar para o alto

Mas os vidros impedem essa luz de penetrar nos edifícios

Já no fim da fuga da escuridão

Quem descia os andares se vê diante de uma luz verdadeira

E decide: “Não preciso mais viver em constante apagão”.

(Thiago Camara)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Se o tempo falasse...

A Persistência da Memória de Salvador Dali


Ah! Se o tempo falasse... Seria ele o indicador de nossos desenganos e aquele que refrescaria na memória nossas vitórias. O que fomos ontem o tempo não fala, mas dirá com ele mesmo aquilo que somos hoje. Aquelas certezas incertas de sermos o que não nos pertence e que nos leva pra mais distante ainda da verdadeira beleza de sermos nós mesmos. Deixa o tempo falar...

Se o tempo falasse não deixaria em nós morrer os momentos de profundidade vividos com a riqueza da nossa verdade. Ela que insiste em vir à tona, ainda quando a mascaramos e maquiamos para parecemos mais agradáveis aos outros. Quando nos expomos em nossos personagens, legitimamos o outro a fantasiar sobre aquilo que somos. Quem se expõe pela metade, nunca será tratado em plenitude. Seremos sempre parecidos com algo que ninguém sabe ao certo o que é, nem nós mesmos. Mas deixa o tempo falar...


Se o tempo falasse, ele diria que sempre é tempo de correr atrás do tempo perdido pelo caminho. Não pararia para irmos ao encontro do que se perdeu, mas seria um grande mestre para nos mostrar o que erramos. Diante da dica do tempo, caberia a nós correr atrás dele para que fosse refeita alegria e paz em nossa alma. Deixa falar...


Se o tempo falasse, pediria para caminhar conosco. Mostraria que é mais amigo nosso do que pensamos e não precisaríamos mais correr contra ele. Revelaria ser o amor o melhor jeito de esgotá-lo, em todo tempo. Seria o caso de o abraçarmos e celebrarmos sua existência e possibilidade de crescimento que nos dá. Deixa...


Se o tempo falasse, lembraria a criança que fomos. Os sonhos perdidos, os desejos escondidos. O sorriso de quem não tem tempo de pensar que um dia o tempo poderia ser um inimigo. Mas tem certas coisas que só o tempo traz. Lembranças e esperanças de um amigo que ensina a não perder tempo com o que não nos edifica.


Se o tempo falasse, seria como se nada se perdesse e tudo fosse aproveitado minuciosamente. Cada segundo, minuto, hora, não passaria em vão. Ele diria que não vale à pena perder a chance de ser feliz hoje. O tempo então se calaria e cumpriria sua missão de nos ajudar a sermos melhores. (Thiago Camara)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sorria vc está no Facebook

Como numa sintonia fina o jornalista Bernardo Camara, irmão deste blogueiro, escreveu o texto abaixo em sua recente passagem pela África do Sul. O tema é semelhante ao "Exposição" aqui publicado e os apresento esta crônica sul-africana.


Foto: Bernardo Camara
Praia na Cidade do Cabo com Table Mountain ao fundo

Depois de mais um dia pelos pontos turísticos, aquela horda de viajantes voltava para seus hotéis com o dever cumprido: suas câmeras haviam registrado sequências intermináveis de sorrisos. Prova cabal de que levam uma vida mágica e feliz. E, thanks Facebook, nunca foi tão fácil, rápido – e prazeroso – espalhar por aí detalhes de tantas vidas invejáveis e irretocáveis.

Naquele dia, o mar estava agitado, e a tripulação avisou: quem não quiser tomar um banho é melhor se abrigar lá dentro. A proa da embarcação esvaziou de bate pronto. Apesar do sol que brilhava forte, fazia frio. Em torno dos 10ºC. No oceano, a temperatura não ia além dos 5º C. Nem cinco minutos se passaram, dito e feito: a cada onda, uma enxurrada d’água vinha barco adentro.

Enquanto a turistada se espremia lá dentro, fugindo de cada gota, restava uma pessoa lá fora. Com casaco pesado, cabelos encaracolados e desgrenhados pelo vento, aquela senhora já passava dos 70 anos. Nem parecia: a cada onda gelada que molhava todo o seu corpo e escorria por seu rosto enrugado, ela abria um sorriso tão espontâneo e forte que lhe dava aparência de criança.

O maridão, que também não escondia suas sete décadas vividas, a observava com o olhar brilhando: “Ela ama o mar”, explicou, enquanto achava graça da alegria da esposa. Era uma transgressora aquela mulher. Se todos os livros turísticos a bordo fossem consultados, nenhum deles diria que tomar água gelada na cara, na proa de uma embarcação, se enquadra na definição de ponto turístico. Portanto, vá para dentro, junte-se aos outros e aquiete-se, moça.

Ela, porém, sequer levava na bolsa seu guia turístico. Tinha-o na cabeça, e a edição nunca foi fechada: estava em constante construção. Para ela, o bom mesmo não eram os dez melhores restaurantes, os dez melhores museus ou os dez visuais mais bonitos indicados por gente que entende do assunto.

“De vida, deixe que entendo eu”, parecia dizer, a cada nova onda que lhe batia no rosto. De cima de seus 70 e poucos anos e sem perfil nas redes sociais, a cada risada ela denunciava: daquela gente que se esconde do oceano vem uma alegria construída e programada para ir ao ar no Facebook. (Bernardo Camara)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Exposição


A manhã já avança e os seguranças se preparam para abrir os portões do pavilhão. É dia de exposição. O que se verá entre os corredores e paredes são obras de arte inéditas, mas que tentam se diferenciar umas das outras usando o mesmo método para chamar a atenção dos visitantes. São corpos desnudos, dorsos, pernas de fora. A cara é dada a tapa e parece que as obras se acostumaram ao ofício diário de se expor. De longe, tudo parece belo e exótico. De perto, o cenário é outro. São olhos que clamam por atenção e suplicam por pelo menos um comentário. Internet é o nome deste pavilhão.

São inúmeros meninos e meninas que se colocam à disposição para serem observados e analisados por pessoas que nem sequer os viram em algum momento de suas vidas. O esforço que fazem para passar uma alegria profunda é recorrente. Só que a tentativa segue ralo abaixo. Quando não é o sorriso da felicidade, é a sensualidade que toma o espaço. E eles se mostram. E cada vez mostram mais. Como se vivessem num constante espetáculo. Esquecem apenas de revelar suas almas, expor aquilo que se esconde atrás do seu corpinho bonito e da sua cara de “simpatia é quase amor”. Estão tão acostumados a ser mais do mesmo que se perdem ao tentar se valorizar através do supérfluo. Reproduzem os gestos dos bad boys e as caretas das ‘single ladies’. E seguem seus dias de luta. Tentam firmar seu espaço na grande rede como a obra de arte mais visitada, comentada e, quiçá, admirada.

Se estas obras soubessem o valor que elas têm... Se pudessem se esforçar para descobrir a riqueza de suas almas, a profundidade de ter uma identidade lhes consumiria. Não sobraria espaço para a mesquinharia. Não haveria manhã, nem seguranças e os portões do pavilhão ficariam fechados. Se a verdade de cada jovem nos fosse revelada, esse tipo de exposição poderia ser cancelada. E aguardaríamos a estreia de uma nova mostra. Um espaço da verdade, onde esses meninos e meninas jamais seriam esquecidos. A beleza do ser, e de ser, enfim seria valorizada. E o aplauso e a emoção tornariam mais fecundos os curiosos sedentos por esta exposição. (Thiago Camara)